Não Existe Fábrica de Software

Table of Contents

Dos artesãos do passado aos pedreiros do presente

Na idade média, os profissionais que hoje são conhecidos como “pedreiros” eram reputados como “artesãos”. De fato, antes dos materiais e técnicas de construção modernos, um bom construtor precisava ser dotado de um tipo de sensibilidade própria dos artistas.

Entretanto, apesar das facilidades contemporâneas, arrisco dizer que, qualquer um que tiver a oportunidade de acompanhar de perto a labuta de um pedreiro, enxergará lampejos do artesão do passado.

Efetivamente, apesar do tempo transcorrido desde que o primeiro homem aprendeu a cortar pedras e de todo aparato atual, as idiossincrasias próprias do oficio dos pedreiros tornaram muito difícil convertê-lo em uma atividade completamente fabril.

Não foi por falta de tentativas…

Desde que as primeiras equipes de desenvolvedores se formaram, houveram inúmeras tentativas, algumas mais bem sucedidas e outras menos, de adotar alguma encarnação do “fordismo” como meio de organizar suas atividades.

Não critico tais esforços, nem vejo-os como intrinsecamente negativos, mas no intento de transpor técnicas aplicadas ao chão de fábrica para a realidade do desenvolvimento de sistemas, muitos equívocos foram cometidos, destarte, por mais estranho que isto soe para os não habituados com suas peculiaridades, este é um dos ramos mais “artesanais” da informática.

O Desenvolvedor é um artesão moderno

Do trabalhador de fábrica não são exigidas qualidades como capacidade de contornar problemas, criatividade, espirito inovador, etc… Não há espaço no trabalho desempenhado em uma indústria para soluções que possam mudar o ritmo ou a direção da linha de montagem. Todavia, tais elementos estão presentes - e não poucas vezes, são bem vindos - em equipes de desenvolvimento.

Por isso, o termo “Fábrica de Softwares” costuma induzir ao erro quem não conhece sua real natureza. E tal erro não é inofensivo, pois clientes e gestores podem subestimar ou cultivar noções equivocadas das capacidades de ação e de cumprimento de prazos das equipes de desenvolvimento.

Os artesãos podem, e devem, seguir metodologias e cumprir prazos!

Não digo com tudo isso que os desenvolvedores devam ser “espíritos livres” - vivendo vidas errantes, vendendo suas “artes” na praia e comendo do que a natureza lhes fornece - bem longe disso!

Os artesãos medievais tinham que dar satisfação aos seus contratantes, apresentar-lhes previsões de custos e cumprir prazos!

Assim sendo, considero uma tolice se opor a aplicação de metodologias de projeto! Qualquer profissional que se preze deve ficar atento aos recursos consumidos, ao tempo investido, as “features” implementadas, ao controle de qualidade, etc…

Ainda assim, é preciso aceitar que a realidade tem potência própria, e por isso, não há regulamento, sistemática, procedimento ou metodologia que justaponha a natureza artística do trabalho do desenvolvedor.

Para se aprofundar:

Carlos Amorim avatar
Carlos Amorim
Analista de sistemas com mais de duas décadas de experiência, em empresas dos mais diversos portes e naturezas.