Como o ChatGPT pode afetar a Índia

Table of Contents

Um pouco de futurologia

O que farei aqui não é um mero exercício de imaginação, ou “eikasía”, como definiu Platão, entretanto, não me atreverei a escalar as íngremes escarpas da encosta do conhecimento até alcançar seu cume (“epistéme”), pois, no momento, não disponho das informações, do tempo, nem dos instrumentos necessários para tal. Sempre mirarei na verdade, e ficarei feliz se ao menos consegui rentea-la, todavia, como qualquer exercício de futurologia (responsável), este aqui propõe-se a ser um “palpite educado”, baseado nos fluxos e refluxos das marés do mercado e na minha própria experiência profissional.

A Índia lidera

Hoje, a coroa de líder mundial no desenvolvimento de softwares personalizados “offshore” repousa sobre cabeças indianas. Isso se deve, em parte, a disponibilidade de mão de obra, pois estima-se que o país asiático conta com um contingente de mais de 5 milhões de desenvolvedores aptos a trabalhar neste mercado. Outros fatores preponderantes são as baixas taxas cobradas por hora de desenvolvimento (em média USD$ 20/hora) e a fluência na língua inglesa. Como fatores negativos são contabilizados o fuso horário (principalmente para empresas cujas sedes encontram-se no continente americano), e (em algumas ocasiões) a baixa qualidade do código gerado.

A expertise indiana X desconfiança das empresas

Apesar da experiência acumulada pelos indianos em todos estes anos em que ocupam a liderança do mercado, muitos de seus cliente ainda preferem manter determinadas partes de seus softwares a cargo do desenvolvimento “in house”. Sistemas que conferem às empresas vantagens competitivas, que apresentam alto grau de complexidade, exigem elevado nível de especialidade, ou aqueles que enceram em suas entranhas segredos empresariais; dificilmente serão delegados a desenvolvedores externos. E mais uma vez, tangenciaremos a dicotomia entre comodities e produtos de alto valor agregado, abordada anteriormente neste artigo.

A fatia de mercado abocanhada pela Índia está na alça de mira do ChatGPT e de outras tecnologias de aprendizado de máquina. É bem sabido que, no estado atual de desenvolvimento das I.A’s, as partes “comoditizadas” dos sistemas são as mais fáceis de serem delegadas à tais tecnologias, isso posto, é certo que muitos dos clientes das empresas indianas ficariam muito contentes em pagar ainda menos pelos softwares desenvolvidos e, de quebra, não ter que lidar com algumas das desvantagens inerentes a contratação de uma empresa estrangeira.

Como os indianos (e os brasileiros) podem escapar da armadilha do ChatGPT?

Este é, sem sombra de dúvida, o elo mais complexo de ligar em qualquer encadeamento lógico de pensamentos. Apontar problemas é sempre mais simples que propor soluções. E aventar soluções para um problema que nem sequer aconteceu, requer uma dose extra de inventividade.

Creio que, pela própria natureza do mercado de softwares “offshore”, a possibilidade de assumir as partes mais “nobres” dos sistemas, que até então são sesmarias dos desenvolvedores “in house”, está fora de questão. Acredito que a saída está em, no melhor espírito de “se não pode vence-los, junte-se a eles”, passar a utilizar as tecnologias de I.A em benefício próprio, enxergando-as como aliadas e não como inimigas e torna-las ferramentas de aceleração e qualificação do desenvolvimento.

Para além do caminho das índias, o Brasil tem crescido muito e se tornado um importante player no mercado de desenvolvimento de sistemas, outrossim, regiões como o Nordeste brasileiro tem um imenso potencial ainda pouco explorado, o que demonstra que ostentamos uma larga margem para crescimento. Precisamos estar atentos, pois a janela de oportunidade pela qual a Índia e outros países entraram, pode não permanecer aberta por muito mais tempo. Se os desenvolvedores brasileiros não acordarem e pararem de negligenciar “soft skills” importantes, como a fluência na língua inglesa, podemos perder o bonde da história e continuar estagnados na posição de eterno “pais do futuro”.

Para saber mais:

O guia para taxas de desenvolvimento de software offshore

Como e por que contratar uma fábrica de software?

Por que os negócios de TI na Índia são tão competitivos?

Tech’s hottest new job: AI whisperer. No coding required.

Carlos Amorim avatar
Carlos Amorim
Analista de sistemas com mais de duas décadas de experiência, em empresas dos mais diversos portes e naturezas.